Em Pinheiros, o Jacarandá é a personificação de uma casa pra chamar de minha
Primeiro foi a Gal com “Meu Bem, Meu Mal” na novela homônima. Uns anos depois, o Gil cantou “Sina” de Djavan na abertura de “Confissões de Adolescente”. Então, veio “Você é Linda”, do Caetano, em “Belíssima”. Punhalada atrás de punhalada. Na assumida mesquinhez teen era golpe muito baixo o mundo ouvir todo dia minhas canções prediletas. Uma sensação ruim que me pega de raspão quando um filme muito bom e underground que assisti numa mostra qualquer estreia no grande circuito ou quando um restaurante-refúgio começa a ter fila de espera. Foi assim com o Genésio há trocentos anos, há poucos com a Carlos e hoje em dia com o Jacarandá (@jacarandabr). Vai daí que nunca escrevi sobre ele, embora apresente com frequência a amigos queridos.
Aaaaa-mo o Jacarandá. O corredorzinho que passa pelo armazém onde vira e mexe a Cida (@mariacidaa_) está cortando um de seus bolos, o quintal onde costumo sentar, a recepção afetuosa do Ariel (@_arielfreitas) ou do Alejandro (@alejandrofazzi), a carta de vinhos que tem o dedo da Camila Ciganda (a @camiciganda, hoje gerente do Obá), o menu que mal uso e sobretudo a vibe de coração de mãe que a argentina Ana Massochi (do @restmartinfierro) deixou de herança e foi amplificada pelo Milton (@miltonlfreitas), que é um exagerado cativante.
A casa tem seus clássicos: o arroz de camarão e porco com cogumelos e azeite defumado, que era feito com grãos bomba, espanhol, redondinho e resistente, e que até hoje pode ser pedido em mini porção (R$ 29); a lula na chapa com palha de batata, que costumava trazer cubinhos de bacon (R$ 54); a língua, que antes vinha com um falso pesto de salsinha e ovos de codorna e agora acompanha uma vinagreta com pimentões (R$ 18) e continua maravilhosa; o polvo na brasa com arroz negro e romesco de castanha do Brasil, que já trouxe uma inesquecível salsa de pistache (R$ 118) e o pudim de queijo da Serra da Canastra com licor de cachaça derramado à mesa (R$ 26).
Todas receitas devoráveis, todas devoradas repetidas vezes, alternando-se com tábuas de queijos (há frios também), pãozinho com berinjela queimada, empanadas, ostras, cogumelos na brasa e até coxinhas. Se me perguntarem se foi a melhor coxinha ou empanada da vida? Foram. Não as mais perfeitas, mas as que sempre caíram com perfeição nos momentos em que foram comidas. Momentos que não precisam ser descritos, nem postados.

Raiz, esse bar lindésimo, pelo olhar do Rubens Kato
Mas eis que me bateu uma vontade tão funda de tomar uma taça descompromissada de vinho, de ser acolhida como se estivesse voltando pra casa depois de uma viagem longa e de ouvir música num dos bares mais lindos da cidade (o @raiz.bar, no subsolo) que tive que jogar na tela esse tanto de ladainha.